2ª aos Corintios
ROTEIRO PARA ESTUDO
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4. Atividade
Ler mais uma vez 2 Coríntios 11,22–33 e, verificar em sua vida quantas vezes sentiu o que Paulo viveu: "Quando sou fraco, então é que sou forte".
5. Oração (Leitura orante , como é sugerida na página inicial deste site)
ROTEIRO PARA ESTUDO
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1. Introdução à carta
A FORÇA SE MANIFESTA NA FRAQUEZA
É difícil dar uma visão ordenada da segunda carta aos Coríntios. Isso porque esta carta é composta, provavelmente, de vários escritos que Paulo enviou aos Coríntios em ocasiões diferentes. Um fato é certo: o Apóstolo remeteu mais de duas cartas aos coríntios; pelo menos quatro e um bilhete.
Alguns dados ajudam a descobrir isso. Em 1Cor 5,9, Paulo diz que tinha escrito uma carta anterior, admoestando os coríntios para que não tivessem relações com gente imoral. Em 2Cor 2,3, fala de uma carta severa e que, ao escrevê-la, «estava tão preocupado e aflito que até chorava». Essas duas cartas, terão desaparecido ou podemos encontrá-las em algum lugar? Vamos por partes:
1. O trecho 2Cor 6,14-7,1 interrompe de certa maneira o contexto; se retirado, não faria falta e até a leitura correria melhor. Nesses versículos Paulo trata dos ídolos e da impiedade; por isso, alguns estudiosos pensam que se trata de um pedaço da carta mencionada em 1Cor 5,9.
2. Os capítulos 10-13 da segunda carta aos Coríntios têm tonalidade diferente dos capítulos anteriores. Paulo se mostra severo e se nota grande envolvimento emocional. Pode ser a carta de que ele fala em 2Cor 2,3.
3. No início de 2Cor 9, Paulo diz que é inútil escrever sobre o «serviço prestado aos irmãos», isto é, sobre a coleta. No entanto, o cap. 8 já tratara longamente sobre essa questão. Este cap. 9 seria, então, um bilhete escrito posteriormente, que retoma o assunto da coleta.
Assim, temos em ordem cronológica:
A - 2Cor 6,14-7,1: fragmento da carta escrita antes da 1Cor.
B - Primeira carta aos Coríntos.
C - 2Cor 10-13: carta severa escrita entre lágrimas. Paulo defende ardorosamente a autenticidade do seu ministério, fazendo uma espécie de diário apaixonado de sua vida de apóstolo. Os coríntios o haviam pressionado, exigindo contas quanto à origem de sua vocação, à autenticidade do seu evangelho e à sinceridade do seu comportamento. Paulo reage magoado; mas, com firmeza e de coração aberto, expõe a sua vida. Deixa vir à tona sua personalidade exuberante e contraditória: ele é forte e fraco, audaz e reservado, impetuoso e terno, mas sempre fiel à missão apostólica e plenamente convicto do evangelho que prega.
2. Leitura da Carta ( Bíblia - Novo Testamento, Paulinas).
3. Estudo da Carta
No fim da permanência de Paulo em Éfeso, ele enviou Tito a Corinto para resolver situações lá existentes. Este deveria encontrar o Apóstolo em Trôade, mas Paulo, em função da revolta dos ourives, lembrada em Atos 19,23ss, teve de deixar Éfeso antes do tempo. Ao chegar a Trôade, não encontrou Tito, que ainda não chegara. Foi, então, em direção à Macedônia, pois estava intensamente angustiado com tudo o que ocorria em Corinto. A Igreja havia sido fundada pelo Apóstolo, mas as relações entre eles sofreram tremenda perturbação.
O livro de Atos dos Apóstolos não informa o que pôde ter acontecido em Corinto. Paulo encontra-se, finalmente, com Tito na Macedônia, provavelmente em Filipos, e recebe notícias favoráveis a respeito de fundação coríntia. Escreve, então, essa Carta, intensa de emoções, polêmicas, ironias e defesas, pelo ano 57 ou início de 58.
O livro de Atos dos Apóstolos não informa o que pôde ter acontecido em Corinto. Paulo encontra-se, finalmente, com Tito na Macedônia, provavelmente em Filipos, e recebe notícias favoráveis a respeito de fundação coríntia. Escreve, então, essa Carta, intensa de emoções, polêmicas, ironias e defesas, pelo ano 57 ou início de 58.
A última visita de Paulo a Corinto foi algo doloroso, como se pode intuir de algumas passagens, como 2 Coríntios 12,14; 13,1–2:
Eis que estou pronto a ir ter convosco pela terceira vez. Não vos serei oneroso, porque não busco os vossos bens, mas sim a vós mesmos. Com efeito, não são os filhos que devem entesourar para os pais, mas os pais para os filhos (2 Coríntios 2,14). É esta a terceira vez que vou visitar-vos. Pelo depoimento de duas ou três testemunhas se resolve toda a questão. Quando de minha segunda visita, já adverti àqueles que pecaram, e hoje, que estou ausente, torno a repeti-lo a eles e aos demais: se eu for outra vez, não usarei de perdão! (2 Coríntios 13,1–2).
Paulo cita, em 2,4, certa Carta de lágrimas, anterior a essa 2 Coríntios, mas que não podemos identificar como a 1 Coríntios.
Foi numa grande aflição, com o coração despedaçado e lágrimas nos olhos, que vos escrevi, não com o propósito de vos contristar, mas para vos fazer conhecer o amor todo particular que vos tenho (2 Coríntios 2,4).
Da leitura de 2,5–8 e de 7,12, há indício de que houve uma ofensa feita a Paulo que muito o machucou.
Se alguém causou tristeza, não me contristou a mim, mas de certo modo — para não exagerar — a todos vós. Basta a esse homem o castigo que a maioria dentre vós lhe infligiu. Assim deveis agora perdoar-lhe e consolá-lo para que não sucumba por demasiada tristeza. Peço-vos que tenhais caridade para com ele […] (2 Coríntios 2,5–8). Portanto, se vos escrevi, não o fiz por causa daquele que cometeu a ofensa, nem por causa do ofendido; foi para que se manifestasse a vossa dedicação por mim diante de Deus (2 Coríntios 7,12).
Houve, pois, uma visita do Apóstolo a Corinto entre a primeira e a segunda Carta. Uma visita dramática, que deixou marcas e sofrimentos. Houve, também, uma Carta, a das "lágrimas", que não nos é conhecida. Contudo, em Atos dos Apóstolos, não temos alusão a problemas dessa grandeza em Corinto! Isso dificulta ainda mais uma avaliação do problema.
Nesse desencontro de informações, temos o pano de fundo para os argumentos de 2 Coríntios. O que houve foi, certamente, o seguinte: a 1 Coríntios e o envio de Timóteo a Corinto não obtiveram sucesso.
Paulo, então, deve ter decidido ir a Corinto para solucionar a situação. Entretanto, essa visita foi um desastre, com alguma ofensa pública sobre o Apóstolo.
Ele retornou a Éfeso e escreveu outra Carta, a dita das "lágrimas", em que exigia a punição de quem lhe havia ofendido (2 Coríntios 7,8–13), confiando-a a Tito.
Combinou com este o encontro em Trôade em determinado tempo. Veio a revolta dos ourives em Éfeso, e Paulo precisou deixar essa cidade antes do tempo; foi à Trôade, mas não encontrou Tito.
Partiu de lá para a Macedônia, onde foi, finalmente, alcançado por Tito, que lhe trouxe boas notícias de Corinto.
Paulo, então, escreveu, finalmente, a Carta que temos como 2 Coríntios.
Endereço e saudação (1,1–11)
Paulo inicia com a saudação costumeira. Associa Timóteo a si, indicando-o como irmão. Dirige-se à Igreja de Corinto e a todos os que se encontram na Acaia. Passa a fazer uma ação de graças pelas consolações.
Certamente, tem em mente as notícias satisfatórias que lhe foram trazidas por Tito depois da visita deste a Corinto.
Declara sua esperança a respeito da Igreja daquela cidade: o mesmo afeto deve uni-los. Em seguida, cita a tribulação passada na Ásia.
Trata-se, certamente, do problema com os ourives em Éfeso. Contudo, sabemos que Paulo sempre encontra dificuldades e oposições, especialmente da parte dos judeus e dos judaizantes. O Apóstolo confia na presença do Senhor, que ele tem como o ressuscitado que realiza a liberdade.
Primeira parte: apologia de Paulo (1,12—7,16)
Nessa primeira parte, Paulo inicia com sua defesa, passa para sua identidade de apóstolo e o que isso implica e afirma a reconciliação como fruto da experiência do Espírito. Isso tudo ocorre em Corinto, e ele, Paulo, junto a Tito, pode sentir a alegria da comunhão e da paz com eles.
Defesa de acusações (1,12—2,17)
Paulo está consciente da importância que tem para os coríntios. Declara que sua orientação, sua força, está no alto, na graça de Deus.
Em seguida, traça, em poucas linhas, seus planos de viagem. Esses planos foram abalados pelas novas situações que haviam surgido. Nesse ponto, faz uma inflexão, questionando, em forma de discurso retórico, sua situação.
Ele não está na dúvida ou movido pelas situações. Seu modelo é Cristo, que é ou sim ou não.
Em função das situações, Paulo não foi a Corinto. Declara que foi para poupar os coríntios. Mandou para a Igreja uma Carta, escrita "em meio a muitas lágrimas", não para entristecer os coríntios, mas para deixá-los a par de seus sentimentos.
Se tal Carta causou tristeza a alguém da comunidade, ele compreende, pois foi, também, uma censura feita em favor da graça de Cristo. Paulo passa, em seguida, a recordar sua passagem por Trôade, o encontro com Tito e as notícias dele recebidas. Dá graças a Deus pela ação que Ele realiza. Paulo tem em mente, certamente, a situação de arrependimento que deve dominar a Igreja de Corinto.
Ministros do Evangelho (3,1—4,6)
Aqui, começa a argumentação mais intensa. Para Paulo, não há necessidade de "cartas de apresentação" de uma ou outra Igreja.
Provavelmente, alguns pregadores cristãos portavam cartas do gênero para poder entrar nas comunidades que iam surgindo e, nelas, realizar seu ministério. Paulo declara que a carta de sua apresentação é a própria Igreja de Corinto.
É o Espírito de Deus que escreveu tal Carta e é essa a certeza do Apóstolo.
Esse Espírito tornou Paulo um homem apto para a realização da obra que lhe foi confiada. Paulo não prega a si mesmo, mas ao Senhor. Se alguém não entende a pregação, o Evangelho de Paulo, é porque não está na perdição. Sente-se servo dos coríntios por causa de Jesus Cristo.
No final dessa longa passagem, declara: Porque Deus que disse: "Das trevas brilhe a luz", é também aquele que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo (2 Coríntios 4,6).
A vida do Apóstolo (4,7—5,13)
Paulo inicia uma descrição poética, emocional e, sobretudo, teológica de sua ação como apóstolo. Não tem ilusões a respeito de sua realidade:
"[…] temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós" (2 Coríntios 2,7).
Continua com uma lista impressionante de "qualidades", que, muitas vezes, são "anti-qualidades" que os apóstolos apresentam. Na verdade, ele está se referindo, especialmente, a si mesmo.
O retrato parece, em alguns momentos, muito amargo. Mas a ideia é esta: transmitir a realidade do apóstolo diante dos valores do mundo e das seguranças que ele impõe. Já o verdadeiro apóstolo sofre tudo para poder conduzir para Cristo. Não busca nunca vantagens, mas sabe que todas as tribulações terão sentido ou serão a certeza da glória em Cristo Jesus. Paulo indica que a vida é passageira, a "tenda", ou "morada terrestre" (5,1). Aguarda a morada celeste e tem desejo dela. Mas sabe que deve estar dignamente preparado. Exorta, pois, para a atenção, como dom do Espírito. Contudo, enquanto o homem fiel está neste mundo, deverá caminhar pela fé. Ele ainda não vê, mas sabe que há mais do que a vista alcança. Todos irão comparecer perante o tribunal de Cristo e receber a retribuição.
Ministério da reconciliação (5,14—7,16)
"A caridade de Cristo nos compele" (2 Coríntios 5,14).
Assim Paulo inicia esse período, no qual aborda o serviço da reconciliação que se opera em sua pessoa, no seu ministério. Ele não tem interesses humanos, mas apenas os interesses de levar todos para Cristo.
"Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!" (2 Coríntios 5,17).
A intensidade da argumentação de Paulo dá a entender uma intensa unidade com o Senhor. Ele se sente realmente um dos seus "colaboradores". É o tempo favorável para a conversão, para a salvação. Por isso, todos devem ter um espírito tocado pela graça de Cristo. Paulo elenca uma série de situações próprias dos que estão em Cristo. Em 5,4–10, ele apresenta, por contrastes, virtudes e situações que julga fundamental ao discípulo.
Subitamente, Paulo declara seu amor, seu carinho e sua atenção para com os coríntios. Pede que sejam diferentes, que sejam tomados pela comunhão com Deus em Cristo, pois, afinal, a luz brilha para eles (6,16–18).
Ele pede que todos os seus ouvintes, os membros da Igreja de Corinto, tenham a atenção voltada para o Espírito e aceitem essa chamada de atenção. Chega a ponto de declarar: Não vos digo isto por vos condenar, pois já vos declaramos que estais em nosso coração, conosco unidos na morte e unidos na vida. Tenho grande confiança em vós. Grande é o motivo de me gloriar de vós. Estou cheio de consolação, transbordo de gozo em todas as nossas tribulações. De fato, à nossa chegada em Macedônia, nenhum repouso teve o nosso corpo. Eram aflições de todos os lados, combates por fora, temores por dentro. Deus, porém, que consola os humildes, confortou-nos com a chegada de Tito; e não somente com a sua chegada, mas também com a consolação que ele recebeu de vós. Ele nos contou o vosso ardor, as vossas lágrimas, a vossa solicitude por mim, de modo que ainda mais me regozijei (2 Coríntios 7,3–7).
Em outros lugares, Paulo também se exalta e declara toda a sua ligação com essa Igreja que o fez sofrer, mas que ele tem como sua obra em Cristo Jesus no Espírito Santo. E faz isso para deixar clara a importância que essa comunidade tem para o próprio Cristo Jesus. Por isso, nas notícias felizes de Tito, Paulo pode exultar no Senhor.
Segunda parte: exortação (8,1—9,15)
A segunda parte centra-se na ideia da coleta para a Igreja-Mãe de Jerusalém. Paulo elogia a generosidade dos coríntios e exorta-os à doação, tendo como base o exemplo do próprio Jesus. No final, ele dá a entender que essa ação é para que a Igreja de Jerusalém entenda e conheça a generosidade que existe da parte das igrejas formadas por pagãos.
Exortação (8,1–24)
Aqui, está o tema da coleta em favor dos irmãos da Judeia. Paulo não descuida dessa situação, pois sabe que eles precisam. A Igreja-Mãe de Jerusalém espera, da abundância da Igreja de Corinto, uma oferta generosa. Para motivar os coríntios, ele usa o exemplo do próprio Jesus:
"Vós conheceis a bondade de nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por sua pobreza" (2 Coríntios 8,9).
Paulo indica Tito como representante para a coleta, junto a outro que ele não cita o nome, mas que é conhecido deles. Ele o faz para estar seguro de que a ação que realiza é segura e tem a confiança das igrejas.
Generosidade (9,1–15)
Paulo declara os coríntios generosos. Ele teme, contudo, que eles não estejam preparados. Por isso, envia-lhes quem pode exortá-los à preparação. É o apóstolo experiente que está falando, atento às suas palavras, mas sincero no que expressa. A coleta para os irmãos da Judeia será de maior benefício para os próprios coríntios, pois será causa de graça da parte de Deus. Afinal, a referida coleta não tem apenas uma função prática, de socorro dos que têm necessidade. Ela é para testemunhar a comunhão entre as igrejas da gentilidade e a Igreja-Mãe de Jerusalém.
Terceira parte: polêmicas (10,1—13,10)
A terceira parte é um misto de ironias bem elaboradas, baseadas nos argumentos de seus adversários, e de observações acerca da missão apostólica, da identidade de evangelizador que Paulo carrega e de sua postura pessoal diante das situações da Igreja de Corinto.
Ameaças e ironias (10,1–18)
Paulo inicia um discurso difícil e exigente, bem como irônico. A primeira afirmação já se apresenta de modo a fazer eco sobre o que dizem a seu respeito. Afirmam que ele é humilde na presença dos seus ouvintes e arrogante por Carta dirigida a eles. Então, ele assume essa postura, declarando-se manso e ousado (10,1).
Afirma que não age por interesse carnal (humano). Alguns agem e causam confusão. Ele está disposto e preparado a intervir na comunidade se for o caso, para que retornem ao bom caminho da obediência a Cristo.
O Apóstolo insiste na observância de suas palavras, pois também será enérgico em pessoa se os coríntios não se convencerem disso. Paulo não se gloria de feitos humanos, mas, sim, de agir pelo Senhor. Não se apoia em trabalhos alheios, mas na sua própria atividade, feita em comunhão com o Senhor.
Censuras aos coríntios (11,1—12,10)
Em seguida, Paulo apresenta suas realizações e disposições. Em primeiro lugar, apresenta sua relação com a Igreja de Corinto nos moldes de um noivo com uma noiva. Teme que sua noiva seja seduzida pela serpente, como o foi Eva no episódio do Gênesis. Quem prega um Jesus diferente do que ele prega é possível que seja aceito pela comunidade! Isso o assombra! Tratam-se dos "eminentes apóstolos" (11,6), seguramente judaizantes que desviam a mensagem original de Paulo, o Evangelho que ele apresenta de modo gratuito. Ele se sacrificou pelos coríntios e não nega o fato. E foi por amor. Continuará a fazê-lo. Essa é sua glória.
O Apóstolo acusa seus detratores, certamente, os "eminentes apóstolos" já citados, de disfarce e sedução sobre os coríntios. Nesse ponto, inicia uma série de versículos interessantes, em que apresenta as qualidades de tais apóstolos e as suas (11,22–23). Depois, traça um perfil de suas atividades e tribulações (11,24– 29), muitas das quais não se têm conhecimento nem pelo "corpus paulinum", nem pelo livro de Atos.
E, brilhantemente, coroa seu discurso declarando que sua glória está na fraqueza, não no poder. É magnífica essa passagem, pois apresenta o Apóstolo na força de sua eloquência e expressão de fé em Jesus Cristo. A ideia é que Paulo é forte quando assume a fraqueza, como Cristo na cruz.
"São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São ministros de Cristo? Falo como menos sábio: eu, ainda mais. Muito mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida. Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação cotidiana, a solicitude por todas as igrejas! Quem é fraco, que eu não seja fraco? Quem sofre escândalo, que eu não me consuma de dor? Se for preciso que a gente se glorie, eu me gloriarei na minha fraqueza. Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito pelos séculos, sabe que não minto. Em Damasco, o governador do rei Aretas mandou guardar a cidade dos damascenos para me prender. Mas, dentro de um cesto, desceram-me por uma janela ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos (2 Coríntios 11,22–33).
Continua sua defesa apresentando experiências místicas. Cita um exemplo de arrebatamento interior e, em seguida, declara, mais uma vez, sua glória na fraqueza. Para concluir essa argumentação, Paulo diz que, apesar de ter revelações, que propriamente não informa, tem um "aguilhão na carne" (12,7), identificado, depois, como "anjo de Satanás", que impede que ele se encha de soberba. O que será esse "aguilhão" e "anjo de Satanás"?
A esse respeito muito já se escreveu e falou. Assim, alguns dizem ser uma doença crônica, algo como a epilepsia. Outros afirmam que é um problema de ordem comportamental. Há, ainda, a questão dos judeus revoltados e dos judaizantes que o perseguem insistentemente.
O que pode ser é difícil de determinar. Mas é algo que incomoda tremendamente o Apóstolo, mas que ele aceita como caminho da graça. Segundo o texto, em 12,8-9, ele pediu, em oração, a libertação desse problema. Porém, foi-lhe revelado que basta a graça de Cristo para a vida. Ele aceita seus limites e conclui esse argumento afirmando que se compraz em tudo o que, para outros, pode ser incômodo e humildade, mas, para ele, é vantagem. Em 12,10, declara uma frase que se tornou também axioma: "Quando sou fraco, então é que sou forte".
A conduta de um pai (12,11—13,10)
Paulo afirma sua qualidade de apóstolo pela sua conduta. Recorda que é o pai quem deve prover seus filhos, e ele o faz, em relação aos coríntios, como um pai faria. Ele lhes confia bens e força, não os rouba ou frauda. Declara sua retidão e comunhão de intenções. Intuímos que a situação que serviu de pano de fundo para essa Carta e as reações de Paulo deve ter sido realmente grave, pois os argumentos são constantes e enérgicos. Parece que os inimigos de Paulo, presentes na Igreja e detendo liderança, inventaram coisas sobre ele, lançando dúvidas sobre seu ministério e conduta. E, ainda por cima, obtêm vantagens da Igreja. Paulo revolta-se contra isso, pois, na realidade, quem está sendo enganado são os próprios coríntios.
Começando a conclusão da Carta, Paulo anuncia que irá visitar a Igreja de Corinto em breve, pela terceira vez. A primeira foi na fundação da Igreja; a segunda foi marcada por divergências; a terceira será depois dessa Carta de comunhão. Ele afirma que haverá testemunhas para decidir a situação.
Os que erraram serão repreendidos por ele, que, conforme diz (3,2), não usará meias medidas. Todos devem examinar-se a si mesmos e ver como está a própria consciência. Paulo mantém o tom aparentemente irônico, com a argumentação da fraqueza de sua parte. Mas é para pôr em evidência que é a força de Cristo que deve prevalecer.
Conclusão (13,11–13)
Finalmente, deseja a alegria a todos, a perfeição, o encorajamento. Os coríntios devem viver em paz. A saudação final é uma fórmula litúrgica.
Ler mais uma vez 2 Coríntios 11,22–33 e, verificar em sua vida quantas vezes sentiu o que Paulo viveu: "Quando sou fraco, então é que sou forte".
5. Oração (Leitura orante , como é sugerida na página inicial deste site)
Excelente contribuição. Parabéns Irmã Patrícia.
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