Carta aos Romanos
A Carta aos Romanos é um dos escritos mais interessantes do Novo Testamento. É como o primeiro tratado de Teologia cristã.
Por isso, ocupa uma posição especial dentro do "corpus paulinum", sendo seu primeiro escrito. Como sabemos, as Cartas de Paulo têm caráter episódico. Sua escrita não obedece a um programa de composição ou exposição de ideias predeterminado, mas é fruto das exigências concretas de comunidades ou pessoas.
Diversamente, a Carta aos Romanos foi pensada, elaborada, apresentada com uma série de argumentos articulados. Não foi escrita somente pela necessidade do momento ou correspondendo à ocupação ou às preocupações do Apóstolo ou mesmo da Igreja de Roma. É uma obra teológica, certamente a primeira em termos cronológicos, do cristianismo. É anterior aos Evangelhos Canônicos e, claramente, anterior às obras dos escritores cristãos. É como o melhor fruto da mente teológica de Paulo.
Quando afirmamos que a Carta aos Romanos não é motivada por problemas concretos da comunidade romana, como foram motivados os outros escritos do Apóstolo, não queremos dizer que ela não correspondesse às necessidades da Igreja de Roma. Não é um conjunto de afirmações, raciocínios independentes da identidade ou circunstâncias daquela Igreja. Ela corresponde, também, às situações concretas, sem ser condicionada a elas. Muito provavelmente, os argumentos da Carta aos Romanos são compreensíveis no contexto da comunidade romana e são, também, comuns de outras Igrejas. Seguramente, Paulo parte conceitualmente de situações e questões muito concretas e estabelece elementos válidos para a compreensão do fenômeno cristão. Apresenta tudo isso para a Igreja de Roma e, com isso, contribui de modo decisivo para a Teologia cristã. Pelo que conhecemos da história de Paulo, no ano 58, ele terminava sua terceira viagem missionária, que começara em 54.
Em Éfeso, Paulo esteve por três anos (Atos 20,31). Foi para a Macedônia, Acaia e Corinto (Atos 20,3), onde ficou por três meses. Lá, foi hóspede de um Gaio, provavelmente batizado pelo próprio Paulo (1 Coríntios 1,14), lembrado em Romanos 16,23:
"Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro, e de toda a Igreja".
Em Corinto, Paulo escreveu a Carta aos Filipenses e decidiu, também, escrever uma carta aos cristãos de Roma, provavelmente levada até a capital do Império pela diaconisa Febe, como podemos intuir da recomendação dada a seu respeito por Paulo em Romanos 16,1. Nessa carta, Paulo expõe as linhas fundamentais de sua pregação, que ele chama de seu Evangelho. Ele tem consciência de que seu trabalho de evangelização está encaminhado nas regiões da Ásia e da Grécia. É o que podemos intuir de Romanos 15,19–24:
De maneira que tenho divulgado o Evangelho de Cristo desde Jerusalém e suas terras vizinhas até a Ilíria. E me empenhei por anunciar o Evangelho onde ainda não havia sido anunciado o nome de Cristo, pois não queria edificar sobre fundamento lançado por outro. Fiz bem assim como está escrito: Vê-lo-ão aqueles aos quais ainda não tinha sido anunciado; conhecê-lo-ão aqueles que dele ainda não tinham ouvido falar. Foi isso o que muitas vezes me impediu de ir ter convosco. Mas, agora, já não tenho com que me ocupar nestas terras; e como há muitos anos tenho saudades de vós, espero ver-vos de passagem, quando eu for à Espanha. Espero também ser por vós conduzido até lá, depois que tiver satisfeito, ao menos em parte, o meu desejo de estar convosco.
Paulo, então, está decidido a ir até a Espanha. Uma etapa necessária dessa viagem é a passagem por Roma. Essa igreja tem expressão no nascente mundo cristão, e Paulo deseja conhecê-la e propor seu Evangelho e as consequências por ele visualizadas. Ele não vai até Roma ou se comunica com essa igreja para fundá-la ou influenciá-la. Ele deseja conhecê-la e ser por ela conhecido. Talvez o desejo do Apóstolo tanto na desejada visita quanto na Carta seja mais o conhecimento e a partilha de princípios do que um debate e menos ainda uma atuação acentuada. Certamente, sua permanência futura, conforme ele pensava no final de sua terceira viagem missionária, estando em Corinto e escrevendo para os romanos, era de ficar em Roma algumas semanas, não mais do que isso. A Carta aos Romanos é, dessa forma, uma espécie de apresentação humana e teológica do Apóstolo para os romanos.
Temas fundamentais de Romanos
Há muita semelhança entre a Carta aos Gálatas e a Carta aos Romanos. Esse "parentesco" pode ser constatado quando os temas são isolados. Vejamos:
1) Natureza do Evangelho: Gálatas 1,6–10 e Romanos 1,16–17.
2) Justificação pela fé e não pelas obras da Lei: Gálatas 3,16 e Atos dos Apóstolos 3,20–28;
3) Exemplo de Abraão: Gálatas 3,16 e Romanos 3,20–28.
4) Situação entre a "carne" e o "espírito": Gálatas 6,19–25 e Romanos 7,14–25; 8,2–9.
5) Redenção pela morte de Jesus: Gálatas 3,27; 3,13; 4,5 e Romanos 3,24; 5,8; 8,31–39.
6) O batismo: Gálatas 3,27 e Romanos 6,3–5.
7) Vida cristã: Gálatas 2,19; 5,24; 6,15 e Romanos 6,4–5.
Os temas fundamentais da Carta aos Romanos podem ser expressos do modo que você verá nos tópicos seguintes. Justificação pela fé
Justiça de Deus e em Deus significa o cumprimento de suas promessas; sendo essas promessas gratuitas, então, justiça é a gratuidade de Deus para com o homem. Deus quer o bem ao homem e é fiel a ele nesse desejo. Se Deus é justo, então, concede ao ser humano a graça que é a sua amizade, a sua intimidade, independentemente de seus bens anteriores. Ele é justo não porque o homem merece o que recebe, mas porque Deus é fiel à sua Palavra e Promessa. A situação final do homem é a de estar justificado por Deus, isto é, ser objeto de sua amizade, de sua graça. Nessa situação, o homem vive do Espírito e produz frutos. Aqui, reside grande parte das diferenças teológicas entre as Igrejas da Reforma e a Igreja Católica. Enquanto esta considera a possibilidade e até a necessidade das obras, ações concretas em função do testemunho da adesão à vontade de Deus, aquelas consideram que a aceitação simples e imediata de Deus e a adesão a ele são suficientes para a justificação. Ambas as posições são possíveis e até conciliáveis, pois, se a justificação é um fato a ser professado, então, ele pode ser confirmado pelas ações, ou obras. Estas não geram a justiça, mas confirmam-na, difundem-na.
Originariamente, é tudo decisão de Deus, não predeterminação cega, mas dom gratuito de Deus. O fiel presta seu assentimento, isto é, sua aceitação consciente, à medida que não apenas declara, mas deixa-se envolver pela graça, justificando-se. É um movimento duplo: de Deus para o fiel, que causa a justificação neste, e do fiel para com Deus ou para com Deus na mediação de outro fiel, ou homem, que declara a aceitação daquela justificação e adesão ao mistério da salvação.
Fé
O que movimenta o fiel para a justificação é a fé. Essa é uma adesão não apenas afetiva, emotiva, passional a Deus ou a uma manifestação sua, mas também é uma adesão consciente, de vontade e intenção e, é claro, também afetiva à vontade de Deus. Esta é expressa na sua Palavra, que é transmitida pela Escritura e, especialmente, pelo Filho de Deus, que se comunica. Contudo, deve-se tomar o cuidado de não dizer que é a fé que justifica, que torna justo o homem.
A fé é a resposta da justiça, da vontade de Deus. Ele justifica o homem pela fé que lhe dá. E a fé testemunha a justiça de Deus. Em outras palavras, simplificando: não é o fiel que se salva, mas é Deus quem salva. Não é a fé do homem que o salva; ela testemunha a salvação que ele sente e vivencia. Cristo e Adão
A comparação e suas considerações importantes estão, especialmente, em Romanos 5. A imagem de Adão é tomada em dois sentidos: no sentido de primeiro homem, início da humanidade, fruto da decisão divina de criar um ser à sua imagem e semelhança, e no sentido de toda a humanidade, todo homem e mulher que, no passado, no presente ou no futuro, divide a humanidade. O acento em Romanos está no primeiro sentido da imagem de Adão. O segundo é derivado do primeiro. Paulo interessa-se pela imagem do primeiro Adão à medida que o segundo Adão, que é Cristo, o supera, o resgata, o transforma. O Apóstolo deseja falar de Jesus Cristo e, para isso, usa a imagem do primeiro homem.
É uma questão teológica, certamente, mas de modo pragmático. A humanidade está incluída na realidade do primeiro Adão, que vive na liberdade condicionada. Ela é condicionada pelos limites de suas escolhas e das escolhas de outros que o influenciam. Esse Adão precisa ser transformado, precisa ser resgatado. Não são suas obras ou decisões que farão isso, mas o novo Adão, que vivifica o que, antes, estava aparentemente distante da graça.
Batismo
O batismo é uma realidade que se destaca em Romanos, em que temos sua Teologia, sua mística e as exigências de sua realidade na vida do fiel. Nós o encontramos de modo especialmente marcante em Romanos 6. O homem que adere a Cristo é sepultado no batismo para as obras mortas. A morte recebe a morte! E, nessa morte, nesse túmulo, o fiel renasce, mas, agora, com Cristo. Então, o batismo tem este sentido duplo: morte em Cristo e vida nele. O batismo não é simplesmente um gesto formal ou social. É um acontecimento salvador, transformador da pessoa.
O batizado está transfigurado em Cristo e deve, agora, viver como é: um ressuscitado em Cristo. O fiel já morreu: o pecado não tem mais força nele, o que tem força agora é Cristo, e isso acontece pelo ato do batismo. Este, contudo, não é um rito mágico. É um rito que marca a graça, o dom que toma conta do fiel.
Ele recebe o Espírito, que o transforma decisivamente e, agora, espera a sua adesão e fidelidade.
Lei
Temos, aqui, um tema importante e marcante na Carta aos Romanos. A questão é tanto mais fundamental e marcante quanto diz respeito à convivência entre fiéis cristãos de origem gentílica e de origem judaica. A Lei e o seu cumprimento são garantia da pertença ao povo da promessa, Israel. Ela é a segurança da ação de Deus na pessoa que a ela adere. Isso Paulo acreditava intensamente antes de sua conversão. É na medida da observância da Lei que o homem "se justifica", isto é, que se aproxima de Deus e, dessa forma, assemelha-se a ele. Mas é necessário observá-la em seus detalhes, em suas propostas mínimas, para tornar o homem santo.
Com Cristo, o "novo Adão", isso deixa de ser necessário. Ele realiza a santificação, e a adesão a seu mistério é que criará a justiça. Antes: a adesão a ele, e não à Lei, é que permitirá que o homem se torne santo. Não é a Lei que santifica. Pelo contrário, ela evidencia o pecado, pois estabelece comportamentos limitados. A adesão a Cristo é que justifica, pois é ele quem santifica, com sua adesão à vontade de Deus.
Em Romanos 7, Paulo discorre sobre essa questão com muita propriedade, deixando claro seu pensamento. Sabemos que esse ponto foi motivo de dificuldade de Paulo com seus inimigos, os judeus e os judaizantes. Eles não podiam entender isso, pois não aceitavam Jesus Cristo como o sentido de tudo, inclusive, como o sentido para a Lei. A Lei tem sua validade enquanto Cristo não havia estado entre nós. Na medida em que Cristo é aceito por nós, ela não tem mais sentido: De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte (Romanos 8,1–2).
O mistério de Israel diante de Cristo Talvez, aqui, esteja o texto mais emocionalmente intenso de Paulo em Romanos. Afinal, ele é hebreu, filho de Israel! Mas vem, aqui, sua perplexidade: Israel, povo da Promessa, dos Profetas, não compreendeu a vinda de Cristo e não a aceitou. Como pode Deus ter permitido isso? A mensagem (o Evangelho) – que deveria ser primeiro para o judeu, o povo que a esperava – está surtindo efeito não nele, mas nos gentios, que não esperavam esse anúncio. Ao menos de modo consciente. Isso é muito complicado de ser compreendido.
Em Romanos 9—11, Paulo discorre longamente sobre a situação de Israel. Parece-nos entender que os planos de Deus foram realmente frustrados pelo seu povo. Gratuidade, eleição, fidelidade, promessa da herança, tudo isso, no pensamento do Apóstolo, não teve repercussão quando da vinda do Messias. Este – que deveria ser aceito pelos judeus e ter dado sentido a toda sua história – passou a ser aceito pelos gentios e está, agora, frutificando. No final, Paulo propõe que a situação de Israel é passageira, pois, um dia, haverá, também de sua parte, a aceitação do Messias como o Filho de Deus. É assim que acontecerá o final desse mundo passageiro e se dará a misericórdia plena (11, 32).
Introdução
A introdução continua com uma ação de graças pela comunidade de Roma (1,8–10) e com algumas notícias de Paulo a respeito de seu desejo de ir até Roma (1,11–15). Não havendo ainda a possibilidade de realizar esse desejo, ele dirige, então, aos romanos essas palavras de sua Carta.
Primeira parte: dogmática (1,16—11,36)
Na primeira parte, Paulo lança as bases para apresentar sua ideia: a justificação vem de Deus e é para todo homem, independentemente de sua condição social ou de sua origem religiosa. O Apóstolo usa muitas imagens e elementos do conhecimento imediato dos romanos, como situações sociais e circunstâncias da vida. Fala, também, dos judeus sem meias palavras, deixando claro que, se eles tinham a prerrogativa de encontrar a salvação em Jesus Cristo, eles a perderam, pois não o acharam capaz de justificar, de tornar próximo de Deus.
Tema (1,16s)
O tema da Carta aos Romanos é, fundamentalmente, o Evangelho de Jesus Cristo, dirigido aos judeus em primeiro lugar e, depois, a todo aquele que aceita a revelação de Jesus Cristo, também se for grego. A relação do fiel com Deus é chamada de justiça e é ela que faz o homem viver. Paulo cita o pensamento: "O justo viverá da fé" (1,17).
A justificação (1,18—4,25)
Aqui, Paulo discorre, a partir da realidade dos gentios e dos judeus, com seus valores e suas situações históricas, para chegar à conclusão de que a distância de Deus não é isenta de culpa. Os judeus não devem colocar sua confiança na Lei, pois não é ela que salva ou resgata o homem . No final, Paulo valoriza a figura de Abraão, apresentando-o como modelo de fé não apenas para os judeus, mas também para todos os que creem. Ele acreditou e esperou mesmo quando a esperança e a fé não cabiam de modo humano. Sua justiça está na perseverança da fé.
Os gentios (1,18–32)
O primeiro pensamento tem como tema os gentios. Paulo está escrevendo a Carta para uma igreja de origem gentílica. Eles recebem, então, as primeiras observações. Segundo o Apóstolo, os gentios podem chegar ao conhecimento de Deus pela própria natureza. Porém, não descobrindo Deus, eles se perdem em confusas considerações da mesma natureza. Invertem os valores e as situações naturais e tornam-se indignos de Deus em função de uma conduta inadequada e absurda.
Os homens em geral e os judeus (2,1–11)
Os que ignoram a verdade e a vontade de Deus acabam se perdendo e encontrando a retribuição para os seus exageros na própria vida. Tribulação e angústia são o resultado para quem pratica o mal. Quem sofre isso não são apenas os judeus se deixam de seguir a seu Deus, mas também os gregos (gentios) se não vivem de modo digno.
A Lei (2,12–24)
Paulo fala aos judeus e recorda que não é a Lei que os salva. Ela não justifica, não torna o homem mais próximo de Deus. Os gentios têm, também, uma lei, uma lei natural que não os salva tampouco. Não seguir a Lei e desejar conduzir a outros é encontrar a perdição. Paulo dá exemplos muito nítidos a respeito (2,21–22).
A circuncisão (2,25–29)
A circuncisão, prática judaica, também não é suficiente para tornar o homem justo. O circunciso, que não leva vida adequada e coerente, não pode ser considerado salvo. Ele é transgressor da Lei. Para Paulo, a verdadeira circuncisão é a do coração, não apenas a da carne (versículo 29).
Promessas e culpas (3,1–20)
Em um longo raciocínio, Paulo pensa sobre a identidade judaica e sobre a circuncisão. Admite que, aos judeus, foram dadas todas as condições de encontrar a salvação. Se alguns negam a fé, o que será deles? Deus irá se anular? De onde vem a confirmação de nossa adesão a Deus: da prática da Lei ou do próprio Deus? Vem, certamente, do próprio Deus, que escolhe e dá a graça a seus filhos. Paulo afirma que todos, independentemente da adesão à Lei ou não, são culpados da distância de Deus.
Um hino, em 3,10–18,
elenca as características de quem está distante da realidade da graça. No final, Paulo indica que o pecado é evidenciado pela Lei. Por ela, o mundo deve reconhecer que precisa de Deus. Mas isso não tem acontecido.
A justiça de Deus (3,21–31)
A justiça de Deus, independentemente da prática ou não da Lei, torna-se visível em Jesus Cristo. Ele legitima toda ação, pois é o instrumento de Deus para a justiça. A fé nele, agora, é o que determina o encontro do homem com Deus. Já não é mais a circuncisão. Todo homem, portanto, pode encontrar a Deus em Jesus Cristo.
Abraão, justificado e fiel (4,1–25)
Paulo inicia um capítulo, todo ele marcado pelas considerações de Abraão. Sua identidade é homem de fé, independente da Lei, marcado pela atenção à vontade e à palavra de Deus que lhe era dirigida. Abraão esperou, teve confiança na manifestação de Deus mesmo não tendo os elementos necessários para ter essa segurança. Por isso, ele é o modelo do homem que crê. Não foi o cumprimento da Lei que lhe deu a paternidade espiritual de todos, mas, sim, a esperança, a fé, a justiça que recebeu de Deus e à qual correspondeu.
A salvação (5,1—11,36)
O Apóstolo inicia o argumento da justificação indicando que ela é a salvação e que essa salvação opera em Jesus Cristo. Ele determina como ocorre essa justificação em Jesus Cristo e, depois, apresenta o argumento do velho e do novo Adão. As ideias podem ser divididas da maneira que segue.
A justificação é penhor da salvação (5,1–11):
não é cabível o medo, pois a salvação veio a todo homem. Todos podem receber o dom do Espírito Santo (5,5), pois todos são resgatados por Jesus Cristo, mesmo sem o saber, ainda mortos pelo pecado. Agora, porém, marcados pela graça, muito mais podemos viver a reconciliação (5,10).
Cristo obtém a justiça (5,12–21):
Adão perdeu a justiça, a comunhão com Deus, pelo pecado. Jesus Cristo restabelece a justiça pela sua obediência. Ele está em sintonia com Deus. Se, em Adão, todos pecaram, em Cristo, todos podem ser justificados. Ele traz a graça, que rompe o pecado. Contrário ao pecado é a graça (5,20).
A morte de Cristo conquistou, para todos, a vida (5,21).
A justiça livra do pecado (6,1–23): o batismo é a assimilação em Cristo. Quem está em Cristo vive com ele e por ele (6,11). Se, antes de conhecer a Cristo, o homem serve a iniquidade, então, conhecendo a Cristo, deve servi-lo e encontrar nele a santidade (6,15ss).
A justiça livra da escravidão (7,1–25):
a Lei limita o homem, pois evidencia o pecado. Então, o homem deve estar ligado a Cristo, pois, aí sim, ele terá a liberdade e a justiça.
Contudo, a Lei não é um mal (7,7)!
Essa pode ser a ideia de quem não está atento a todo o argumento. A Lei é boa (7,2) e espiritual (7,14), mas o que ela propõe facilmente leva ao conhecimento do pecado (7,8). A razão reta, tocada pela Lei, que deve conduzir para o bom caminho, está em luta contra o pecado (7,14–25). É Jesus Cristo quem realiza a justificação e transforma tudo, livrando o homem do drama (7,25).
Justiça e Espírito (8,1–39):
a redenção operada em Jesus Cristo liberta do pecado e da Lei. A comunhão com Jesus Cristo faz o homem estar na presença do Espírito Santo (8,9.11). É necessário viver no Espírito para que isso seja real, vencendo-se os desejos da carne (8,12s). Assim, o Espírito poderá dar testemunho (8,15–18). Note-se que o texto sobre a justiça se encerra com um maravilhoso hino (8,31–39):
Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Realmente, está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro. Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Israel e a incredulidade (9,1–5)
Israel, povo da Aliança, não acreditou no Senhor Jesus Cristo. Isso não seria uma negação de tudo o que foi anunciado e esperado? Paulo sente o drama intenso, inclusive porque também ele é de Israel. Pensa que isso terá solução.
Deus e a liberdade (9,6–33)
Deus não elegeu toda a descendência de Abraão para fazer povo de Deus. Ele é livre para escolher e para decidir. É o mistério de amor de Deus (9,14–24). Israel foi rejeitado pela incredulidade (10,1–21) O motivo da distância de Israel em relação a Jesus Cristo é a incredulidade. Havia tanta dificuldade em compreender o plano da salvação que a mesma salvação não foi vivida. Israel, cheio de chances de conhecer o Messias, não lhe deu atenção e, por isso, pela incredulidade, perdeu a salvação. Israel não pode dizer que não a conhecia, pois ela foi pregada intensamente (10,14–21).
Reprovação definitiva? (11, 1–33)
Mas Deus não abandona seu povo! Ao contrário, pretende, também, salvar esse povo e dar-lhe um lugar de destaque, pois nunca deixou de ser seu povo. Os gentios, por sua vez, não se devem julgar em paz e segurança total. Devem temer o erro e o pecado para não perder o próprio lugar na salvação e na história.
Hino à sabedoria de Deus (11,34–36)
O hino à sabedoria de Deus é formidável em sua expressão lírica. Fazendo uma pergunta, o poeta declara sua admiração e maravilha. Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos! Quem pode compreender o pensamento do Senhor? Quem jamais foi o seu conselheiro? Quem lhe deu primeiro, para que lhe seja retribuído? Dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele a glória por toda a eternidade! Amém (11,34–36).
Segunda parte: moral (12,1—15,13)
A segunda parte da Carta aos Romanos é moral, de aplicação prática da justiça que Deus realiza em Jesus Cristo. Apresenta muitos elementos concretos para serem observados como conduta de um fiel em Jesus Cristo.
Prática das virtudes (12,1s)
A vida cristã implica uma renovação interior, especialmente, a mortificação do egoísmo. É esse o culto espiritual que Deus exige dos homens. Aqui, nasce a religião sublime (12,1s).
Humildade e fidelidade nos carismas (12,3–8)
Os carismas são para a Igreja, e não para o bem-estar pessoal. Cada um deve, então, viver com simplicidade o que lhe foi dado.
Caridade até para com os inimigos (12,9–21)
Até os inimigos merecem a caridade em virtude de Cristo Jesus. O cristão deve estar sempre empenhado em viver a caridade, a generosidade, deixando de lado a inimizade, o orgulho pessoal e a vingança.
As autoridades (13,1–7)
O cristão tem deveres para com as autoridades. Isso é interessante de ler, pois é u
ma consideração feita em função da realidade de todos em relação ao Império. O cristão não está isento de estar em sintonia com as autoridades.
A caridade é o resumo da Lei (13,8–11)
A caridade é o resumo da Lei, e sua plenitude é o amor.
As armas da luz (13,11–14)
As armas da luz são as boas obras. O fiel deve negar-se às orgias, às bebedeiras, à devassidão etc. Essas são as obras das trevas.
Normas particulares (14,1—15,13)
Aqui, entra um caso concreto: a questão da comida. Ela está muito ligada a práticas religiosas e cultuais. Sabemos já disso pelo próprio Judaísmo. Paulo não aborda essa questão de modo muito claro, mas o que ele sugere é, sim, objetivo. Pela liberdade de Cristo, pode ser feito sem medo, contanto que esteja dentro dos planos de Deus e confirme a justiça que habita em todo batizado. Contudo, se uma ação alimentar pode escandalizar os fracos, então, não deve ser feita pelos supostamente fortes.
Cristãos de origem gentílica e de origem judaica podem viver muito bem unidos em Cristo Jesus, louvando a uma só voz ao Senhor. Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como Cristo nos acolheu para a glória de Deus. Pois asseguro que Cristo exerceu seu ministério entre os incircuncisos para manifestar a veracidade de Deus pela realização das promessas feitas aos patriarcas. Quanto aos pagãos, eles só glorificam a Deus em razão de sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu vos louvarei entre as nações e cantarei louvores ao vosso nome. Noutro lugar diz: Alegrai-vos, nações, com o seu povo. E ainda diz: Louvai ao Senhor, nações todas, e glorificai-o, todos os povos! Isaías também diz: Da raiz de Jessé surgirá um rebento que governará as nações; nele esperarão as nações. O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e de toda a paz na vossa fé, para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança! (15,7–13).
Conclusão, saudações (15,14—16,24)
A ousadia de Paulo (15,14–21):
Paulo "ousou" escrever aos romanos, pois eles também estão sob o amor de Deus e seu olhar. Merecem a graça de Cristo como todo homem e são justificados por ele. O Apóstolo deseja pregar naquela Igreja em breve.
Planos de viagem (15,22–33)
Paulo apresenta seus planos de viagens. Depois de levar até Jerusalém a coleta feita na Macedônia e na Acaia, declara que deseja ir até Roma e, dali, seguir até a Espanha. Recomenda-se, então, à comunidade de Roma nessas longas viagens. A Carta parece encerrar-se no versículo 20: "A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco!". Imediatamente, porém, inicia-se uma série de recomendações e saudações.
Últimas recomendações e saudações (16,1–24)
Enviam-se saudações a muitas pessoas, praticamente um terço com nome judeu; o restante é de origem gentílica. Isso evidencia a identidade da Igreja de Roma em época apostólica.
Doxologia final (16,25ss)
O final da carta é um louvor, uma doxologia. Àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo — conforme a revelação do mistério, guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do eterno Deus e, por meio das Escrituras proféticas, dado a conhecer a todas as nações, a fim de levá-las à obediência da fé —, a Deus, único, sábio, por Jesus Cristo, glória por toda a eternidade! Amém! (16,25–26).
A partir deste texto de Alberione e, lendo o capítulo 8 da carta aos Romanos, comentar com o grupo, porque o Fundador consagrou a São Paulo a Família Paulina.
ROTEIRO PARA ESTUDO
1. Introdução à carta
2. Leitura da Carta ( Bíblia - Novo Testamento, Paulinas).
3. Estudo da Carta
4. Atividade
5. Oração (Leitura orante)
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1. Introdução à carta
A SALVAÇÃO VEM PELA FÉ
Nada sabemos sobre a origem da comunidade cristã de Roma, nem sobre suas condições na época de Paulo. As únicas informações são as que se podem tirar desta carta.
Formada talvez por cristãos vindos da Palestina e da Síria, essa comunidade logo se tornou conhecida no mundo todo. Um edito do imperador Cláudio, no ano 49, expulsou de Roma os judeus e, provavelmente, também cristãos. Prisca e Áquila, um casal judeu-cristão, vítimas dessa expulsão, foram para Corinto, onde se encontraram com Paulo (At 18,1-3), que realizava a segunda viagem missionária (50-52 d.C.). É através deles que Paulo é informado sobre a situação dos cristãos em Roma. A partir dessa época, o Apóstolo começa a fazer planos para visitá-los pessoalmente. Por ocasião da terceira viagem (57-58 d.C.), ele se encontra novamente em Corinto (At 20,1-3), e projeta ir até a Espanha. Escreve, então, a fim de preparar os cristãos de Roma para a sua tão desejada visita (Rm 15,14-29).
A carta aos Romanos parece ter uma finalidade bem precisa: os temas teológicos tratados e o debate com o judaísmo mostram que Paulo está preocupado em corrigir falsas interpretações a respeito de sua pregação entre os pagãos, provavelmente levadas a Roma por judeus e por cristãos judaizantes (Rm 16,17-18).
O Apóstolo expõe de maneira serena, ordenada e aprofundada, a doutrina que já havia exposto de modo polêmico na carta aos Gálatas: a gratuidade da salvação pela fé. Ele mostra que só Deus pode salvar e que ele salva não apenas os judeus, mas toda a humanidade destruída pelo pecado. E Deus salva por meio de Jesus Cristo. Ora, para que a humanidade seja salva, Deus lhe dá uma anistia geral sob uma condição: que o homem acredite em Jesus Cristo, manifestação suprema do amor de Deus aos homens, e se torne discípulo dele. A seguir, o Espírito age dentro do homem, assim anistiado, e constrói nele uma vida nova, que destrói o pecado. Solidarizando-se com Jesus Cristo, princípio da nova humanidade (novo Adão), a humanidade pode recomeçar seu caminho e salvar-se.
Paulo quer mostrar aos judeu-cristãos de Roma e a nós que nenhuma lei pode salvar, por melhor que seja, nem mesmo a judaica, pois não consegue destruir o pecado; ao contrário, ela até alimenta o pecado. Somente a fé que temos em Jesus Cristo é que nos insere no âmbito da graça e nos possibilita construir, no Espírito, a humanidade nova.
1. Introdução à carta
2. Leitura da Carta ( Bíblia - Novo Testamento, Paulinas).
3. Estudo da Carta
4. Atividade
5. Oração (Leitura orante)
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1. Introdução à carta
A SALVAÇÃO VEM PELA FÉ
Nada sabemos sobre a origem da comunidade cristã de Roma, nem sobre suas condições na época de Paulo. As únicas informações são as que se podem tirar desta carta.
Formada talvez por cristãos vindos da Palestina e da Síria, essa comunidade logo se tornou conhecida no mundo todo. Um edito do imperador Cláudio, no ano 49, expulsou de Roma os judeus e, provavelmente, também cristãos. Prisca e Áquila, um casal judeu-cristão, vítimas dessa expulsão, foram para Corinto, onde se encontraram com Paulo (At 18,1-3), que realizava a segunda viagem missionária (50-52 d.C.). É através deles que Paulo é informado sobre a situação dos cristãos em Roma. A partir dessa época, o Apóstolo começa a fazer planos para visitá-los pessoalmente. Por ocasião da terceira viagem (57-58 d.C.), ele se encontra novamente em Corinto (At 20,1-3), e projeta ir até a Espanha. Escreve, então, a fim de preparar os cristãos de Roma para a sua tão desejada visita (Rm 15,14-29).
A carta aos Romanos parece ter uma finalidade bem precisa: os temas teológicos tratados e o debate com o judaísmo mostram que Paulo está preocupado em corrigir falsas interpretações a respeito de sua pregação entre os pagãos, provavelmente levadas a Roma por judeus e por cristãos judaizantes (Rm 16,17-18).
O Apóstolo expõe de maneira serena, ordenada e aprofundada, a doutrina que já havia exposto de modo polêmico na carta aos Gálatas: a gratuidade da salvação pela fé. Ele mostra que só Deus pode salvar e que ele salva não apenas os judeus, mas toda a humanidade destruída pelo pecado. E Deus salva por meio de Jesus Cristo. Ora, para que a humanidade seja salva, Deus lhe dá uma anistia geral sob uma condição: que o homem acredite em Jesus Cristo, manifestação suprema do amor de Deus aos homens, e se torne discípulo dele. A seguir, o Espírito age dentro do homem, assim anistiado, e constrói nele uma vida nova, que destrói o pecado. Solidarizando-se com Jesus Cristo, princípio da nova humanidade (novo Adão), a humanidade pode recomeçar seu caminho e salvar-se.
Paulo quer mostrar aos judeu-cristãos de Roma e a nós que nenhuma lei pode salvar, por melhor que seja, nem mesmo a judaica, pois não consegue destruir o pecado; ao contrário, ela até alimenta o pecado. Somente a fé que temos em Jesus Cristo é que nos insere no âmbito da graça e nos possibilita construir, no Espírito, a humanidade nova.
2. Leitura da Carta
3. Estudo da Carta
A Carta aos Romanos é um dos escritos mais interessantes do Novo Testamento. É como o primeiro tratado de Teologia cristã.
Por isso, ocupa uma posição especial dentro do "corpus paulinum", sendo seu primeiro escrito. Como sabemos, as Cartas de Paulo têm caráter episódico. Sua escrita não obedece a um programa de composição ou exposição de ideias predeterminado, mas é fruto das exigências concretas de comunidades ou pessoas.
Diversamente, a Carta aos Romanos foi pensada, elaborada, apresentada com uma série de argumentos articulados. Não foi escrita somente pela necessidade do momento ou correspondendo à ocupação ou às preocupações do Apóstolo ou mesmo da Igreja de Roma. É uma obra teológica, certamente a primeira em termos cronológicos, do cristianismo. É anterior aos Evangelhos Canônicos e, claramente, anterior às obras dos escritores cristãos. É como o melhor fruto da mente teológica de Paulo.
Quando afirmamos que a Carta aos Romanos não é motivada por problemas concretos da comunidade romana, como foram motivados os outros escritos do Apóstolo, não queremos dizer que ela não correspondesse às necessidades da Igreja de Roma. Não é um conjunto de afirmações, raciocínios independentes da identidade ou circunstâncias daquela Igreja. Ela corresponde, também, às situações concretas, sem ser condicionada a elas. Muito provavelmente, os argumentos da Carta aos Romanos são compreensíveis no contexto da comunidade romana e são, também, comuns de outras Igrejas. Seguramente, Paulo parte conceitualmente de situações e questões muito concretas e estabelece elementos válidos para a compreensão do fenômeno cristão. Apresenta tudo isso para a Igreja de Roma e, com isso, contribui de modo decisivo para a Teologia cristã. Pelo que conhecemos da história de Paulo, no ano 58, ele terminava sua terceira viagem missionária, que começara em 54.
Em Éfeso, Paulo esteve por três anos (Atos 20,31). Foi para a Macedônia, Acaia e Corinto (Atos 20,3), onde ficou por três meses. Lá, foi hóspede de um Gaio, provavelmente batizado pelo próprio Paulo (1 Coríntios 1,14), lembrado em Romanos 16,23:
"Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro, e de toda a Igreja".
Em Corinto, Paulo escreveu a Carta aos Filipenses e decidiu, também, escrever uma carta aos cristãos de Roma, provavelmente levada até a capital do Império pela diaconisa Febe, como podemos intuir da recomendação dada a seu respeito por Paulo em Romanos 16,1. Nessa carta, Paulo expõe as linhas fundamentais de sua pregação, que ele chama de seu Evangelho. Ele tem consciência de que seu trabalho de evangelização está encaminhado nas regiões da Ásia e da Grécia. É o que podemos intuir de Romanos 15,19–24:
De maneira que tenho divulgado o Evangelho de Cristo desde Jerusalém e suas terras vizinhas até a Ilíria. E me empenhei por anunciar o Evangelho onde ainda não havia sido anunciado o nome de Cristo, pois não queria edificar sobre fundamento lançado por outro. Fiz bem assim como está escrito: Vê-lo-ão aqueles aos quais ainda não tinha sido anunciado; conhecê-lo-ão aqueles que dele ainda não tinham ouvido falar. Foi isso o que muitas vezes me impediu de ir ter convosco. Mas, agora, já não tenho com que me ocupar nestas terras; e como há muitos anos tenho saudades de vós, espero ver-vos de passagem, quando eu for à Espanha. Espero também ser por vós conduzido até lá, depois que tiver satisfeito, ao menos em parte, o meu desejo de estar convosco.
Paulo, então, está decidido a ir até a Espanha. Uma etapa necessária dessa viagem é a passagem por Roma. Essa igreja tem expressão no nascente mundo cristão, e Paulo deseja conhecê-la e propor seu Evangelho e as consequências por ele visualizadas. Ele não vai até Roma ou se comunica com essa igreja para fundá-la ou influenciá-la. Ele deseja conhecê-la e ser por ela conhecido. Talvez o desejo do Apóstolo tanto na desejada visita quanto na Carta seja mais o conhecimento e a partilha de princípios do que um debate e menos ainda uma atuação acentuada. Certamente, sua permanência futura, conforme ele pensava no final de sua terceira viagem missionária, estando em Corinto e escrevendo para os romanos, era de ficar em Roma algumas semanas, não mais do que isso. A Carta aos Romanos é, dessa forma, uma espécie de apresentação humana e teológica do Apóstolo para os romanos.
Temas fundamentais de Romanos
Há muita semelhança entre a Carta aos Gálatas e a Carta aos Romanos. Esse "parentesco" pode ser constatado quando os temas são isolados. Vejamos:
1) Natureza do Evangelho: Gálatas 1,6–10 e Romanos 1,16–17.
2) Justificação pela fé e não pelas obras da Lei: Gálatas 3,16 e Atos dos Apóstolos 3,20–28;
3) Exemplo de Abraão: Gálatas 3,16 e Romanos 3,20–28.
4) Situação entre a "carne" e o "espírito": Gálatas 6,19–25 e Romanos 7,14–25; 8,2–9.
5) Redenção pela morte de Jesus: Gálatas 3,27; 3,13; 4,5 e Romanos 3,24; 5,8; 8,31–39.
6) O batismo: Gálatas 3,27 e Romanos 6,3–5.
7) Vida cristã: Gálatas 2,19; 5,24; 6,15 e Romanos 6,4–5.
Os temas fundamentais da Carta aos Romanos podem ser expressos do modo que você verá nos tópicos seguintes. Justificação pela fé
Justiça de Deus e em Deus significa o cumprimento de suas promessas; sendo essas promessas gratuitas, então, justiça é a gratuidade de Deus para com o homem. Deus quer o bem ao homem e é fiel a ele nesse desejo. Se Deus é justo, então, concede ao ser humano a graça que é a sua amizade, a sua intimidade, independentemente de seus bens anteriores. Ele é justo não porque o homem merece o que recebe, mas porque Deus é fiel à sua Palavra e Promessa. A situação final do homem é a de estar justificado por Deus, isto é, ser objeto de sua amizade, de sua graça. Nessa situação, o homem vive do Espírito e produz frutos. Aqui, reside grande parte das diferenças teológicas entre as Igrejas da Reforma e a Igreja Católica. Enquanto esta considera a possibilidade e até a necessidade das obras, ações concretas em função do testemunho da adesão à vontade de Deus, aquelas consideram que a aceitação simples e imediata de Deus e a adesão a ele são suficientes para a justificação. Ambas as posições são possíveis e até conciliáveis, pois, se a justificação é um fato a ser professado, então, ele pode ser confirmado pelas ações, ou obras. Estas não geram a justiça, mas confirmam-na, difundem-na.
Originariamente, é tudo decisão de Deus, não predeterminação cega, mas dom gratuito de Deus. O fiel presta seu assentimento, isto é, sua aceitação consciente, à medida que não apenas declara, mas deixa-se envolver pela graça, justificando-se. É um movimento duplo: de Deus para o fiel, que causa a justificação neste, e do fiel para com Deus ou para com Deus na mediação de outro fiel, ou homem, que declara a aceitação daquela justificação e adesão ao mistério da salvação.
Fé
O que movimenta o fiel para a justificação é a fé. Essa é uma adesão não apenas afetiva, emotiva, passional a Deus ou a uma manifestação sua, mas também é uma adesão consciente, de vontade e intenção e, é claro, também afetiva à vontade de Deus. Esta é expressa na sua Palavra, que é transmitida pela Escritura e, especialmente, pelo Filho de Deus, que se comunica. Contudo, deve-se tomar o cuidado de não dizer que é a fé que justifica, que torna justo o homem.
A fé é a resposta da justiça, da vontade de Deus. Ele justifica o homem pela fé que lhe dá. E a fé testemunha a justiça de Deus. Em outras palavras, simplificando: não é o fiel que se salva, mas é Deus quem salva. Não é a fé do homem que o salva; ela testemunha a salvação que ele sente e vivencia. Cristo e Adão
A comparação e suas considerações importantes estão, especialmente, em Romanos 5. A imagem de Adão é tomada em dois sentidos: no sentido de primeiro homem, início da humanidade, fruto da decisão divina de criar um ser à sua imagem e semelhança, e no sentido de toda a humanidade, todo homem e mulher que, no passado, no presente ou no futuro, divide a humanidade. O acento em Romanos está no primeiro sentido da imagem de Adão. O segundo é derivado do primeiro. Paulo interessa-se pela imagem do primeiro Adão à medida que o segundo Adão, que é Cristo, o supera, o resgata, o transforma. O Apóstolo deseja falar de Jesus Cristo e, para isso, usa a imagem do primeiro homem.
É uma questão teológica, certamente, mas de modo pragmático. A humanidade está incluída na realidade do primeiro Adão, que vive na liberdade condicionada. Ela é condicionada pelos limites de suas escolhas e das escolhas de outros que o influenciam. Esse Adão precisa ser transformado, precisa ser resgatado. Não são suas obras ou decisões que farão isso, mas o novo Adão, que vivifica o que, antes, estava aparentemente distante da graça.
Batismo
O batismo é uma realidade que se destaca em Romanos, em que temos sua Teologia, sua mística e as exigências de sua realidade na vida do fiel. Nós o encontramos de modo especialmente marcante em Romanos 6. O homem que adere a Cristo é sepultado no batismo para as obras mortas. A morte recebe a morte! E, nessa morte, nesse túmulo, o fiel renasce, mas, agora, com Cristo. Então, o batismo tem este sentido duplo: morte em Cristo e vida nele. O batismo não é simplesmente um gesto formal ou social. É um acontecimento salvador, transformador da pessoa.
O batizado está transfigurado em Cristo e deve, agora, viver como é: um ressuscitado em Cristo. O fiel já morreu: o pecado não tem mais força nele, o que tem força agora é Cristo, e isso acontece pelo ato do batismo. Este, contudo, não é um rito mágico. É um rito que marca a graça, o dom que toma conta do fiel.
Ele recebe o Espírito, que o transforma decisivamente e, agora, espera a sua adesão e fidelidade.
Lei
Temos, aqui, um tema importante e marcante na Carta aos Romanos. A questão é tanto mais fundamental e marcante quanto diz respeito à convivência entre fiéis cristãos de origem gentílica e de origem judaica. A Lei e o seu cumprimento são garantia da pertença ao povo da promessa, Israel. Ela é a segurança da ação de Deus na pessoa que a ela adere. Isso Paulo acreditava intensamente antes de sua conversão. É na medida da observância da Lei que o homem "se justifica", isto é, que se aproxima de Deus e, dessa forma, assemelha-se a ele. Mas é necessário observá-la em seus detalhes, em suas propostas mínimas, para tornar o homem santo.
Com Cristo, o "novo Adão", isso deixa de ser necessário. Ele realiza a santificação, e a adesão a seu mistério é que criará a justiça. Antes: a adesão a ele, e não à Lei, é que permitirá que o homem se torne santo. Não é a Lei que santifica. Pelo contrário, ela evidencia o pecado, pois estabelece comportamentos limitados. A adesão a Cristo é que justifica, pois é ele quem santifica, com sua adesão à vontade de Deus.
Em Romanos 7, Paulo discorre sobre essa questão com muita propriedade, deixando claro seu pensamento. Sabemos que esse ponto foi motivo de dificuldade de Paulo com seus inimigos, os judeus e os judaizantes. Eles não podiam entender isso, pois não aceitavam Jesus Cristo como o sentido de tudo, inclusive, como o sentido para a Lei. A Lei tem sua validade enquanto Cristo não havia estado entre nós. Na medida em que Cristo é aceito por nós, ela não tem mais sentido: De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte (Romanos 8,1–2).
O mistério de Israel diante de Cristo Talvez, aqui, esteja o texto mais emocionalmente intenso de Paulo em Romanos. Afinal, ele é hebreu, filho de Israel! Mas vem, aqui, sua perplexidade: Israel, povo da Promessa, dos Profetas, não compreendeu a vinda de Cristo e não a aceitou. Como pode Deus ter permitido isso? A mensagem (o Evangelho) – que deveria ser primeiro para o judeu, o povo que a esperava – está surtindo efeito não nele, mas nos gentios, que não esperavam esse anúncio. Ao menos de modo consciente. Isso é muito complicado de ser compreendido.
Em Romanos 9—11, Paulo discorre longamente sobre a situação de Israel. Parece-nos entender que os planos de Deus foram realmente frustrados pelo seu povo. Gratuidade, eleição, fidelidade, promessa da herança, tudo isso, no pensamento do Apóstolo, não teve repercussão quando da vinda do Messias. Este – que deveria ser aceito pelos judeus e ter dado sentido a toda sua história – passou a ser aceito pelos gentios e está, agora, frutificando. No final, Paulo propõe que a situação de Israel é passageira, pois, um dia, haverá, também de sua parte, a aceitação do Messias como o Filho de Deus. É assim que acontecerá o final desse mundo passageiro e se dará a misericórdia plena (11, 32).
Introdução
A introdução continua com uma ação de graças pela comunidade de Roma (1,8–10) e com algumas notícias de Paulo a respeito de seu desejo de ir até Roma (1,11–15). Não havendo ainda a possibilidade de realizar esse desejo, ele dirige, então, aos romanos essas palavras de sua Carta.
Primeira parte: dogmática (1,16—11,36)
Na primeira parte, Paulo lança as bases para apresentar sua ideia: a justificação vem de Deus e é para todo homem, independentemente de sua condição social ou de sua origem religiosa. O Apóstolo usa muitas imagens e elementos do conhecimento imediato dos romanos, como situações sociais e circunstâncias da vida. Fala, também, dos judeus sem meias palavras, deixando claro que, se eles tinham a prerrogativa de encontrar a salvação em Jesus Cristo, eles a perderam, pois não o acharam capaz de justificar, de tornar próximo de Deus.
Tema (1,16s)
O tema da Carta aos Romanos é, fundamentalmente, o Evangelho de Jesus Cristo, dirigido aos judeus em primeiro lugar e, depois, a todo aquele que aceita a revelação de Jesus Cristo, também se for grego. A relação do fiel com Deus é chamada de justiça e é ela que faz o homem viver. Paulo cita o pensamento: "O justo viverá da fé" (1,17).
A justificação (1,18—4,25)
Aqui, Paulo discorre, a partir da realidade dos gentios e dos judeus, com seus valores e suas situações históricas, para chegar à conclusão de que a distância de Deus não é isenta de culpa. Os judeus não devem colocar sua confiança na Lei, pois não é ela que salva ou resgata o homem . No final, Paulo valoriza a figura de Abraão, apresentando-o como modelo de fé não apenas para os judeus, mas também para todos os que creem. Ele acreditou e esperou mesmo quando a esperança e a fé não cabiam de modo humano. Sua justiça está na perseverança da fé.
Os gentios (1,18–32)
O primeiro pensamento tem como tema os gentios. Paulo está escrevendo a Carta para uma igreja de origem gentílica. Eles recebem, então, as primeiras observações. Segundo o Apóstolo, os gentios podem chegar ao conhecimento de Deus pela própria natureza. Porém, não descobrindo Deus, eles se perdem em confusas considerações da mesma natureza. Invertem os valores e as situações naturais e tornam-se indignos de Deus em função de uma conduta inadequada e absurda.
Os homens em geral e os judeus (2,1–11)
Os que ignoram a verdade e a vontade de Deus acabam se perdendo e encontrando a retribuição para os seus exageros na própria vida. Tribulação e angústia são o resultado para quem pratica o mal. Quem sofre isso não são apenas os judeus se deixam de seguir a seu Deus, mas também os gregos (gentios) se não vivem de modo digno.
A Lei (2,12–24)
Paulo fala aos judeus e recorda que não é a Lei que os salva. Ela não justifica, não torna o homem mais próximo de Deus. Os gentios têm, também, uma lei, uma lei natural que não os salva tampouco. Não seguir a Lei e desejar conduzir a outros é encontrar a perdição. Paulo dá exemplos muito nítidos a respeito (2,21–22).
A circuncisão (2,25–29)
A circuncisão, prática judaica, também não é suficiente para tornar o homem justo. O circunciso, que não leva vida adequada e coerente, não pode ser considerado salvo. Ele é transgressor da Lei. Para Paulo, a verdadeira circuncisão é a do coração, não apenas a da carne (versículo 29).
Promessas e culpas (3,1–20)
Em um longo raciocínio, Paulo pensa sobre a identidade judaica e sobre a circuncisão. Admite que, aos judeus, foram dadas todas as condições de encontrar a salvação. Se alguns negam a fé, o que será deles? Deus irá se anular? De onde vem a confirmação de nossa adesão a Deus: da prática da Lei ou do próprio Deus? Vem, certamente, do próprio Deus, que escolhe e dá a graça a seus filhos. Paulo afirma que todos, independentemente da adesão à Lei ou não, são culpados da distância de Deus.
Um hino, em 3,10–18,
elenca as características de quem está distante da realidade da graça. No final, Paulo indica que o pecado é evidenciado pela Lei. Por ela, o mundo deve reconhecer que precisa de Deus. Mas isso não tem acontecido.
A justiça de Deus (3,21–31)
A justiça de Deus, independentemente da prática ou não da Lei, torna-se visível em Jesus Cristo. Ele legitima toda ação, pois é o instrumento de Deus para a justiça. A fé nele, agora, é o que determina o encontro do homem com Deus. Já não é mais a circuncisão. Todo homem, portanto, pode encontrar a Deus em Jesus Cristo.
Abraão, justificado e fiel (4,1–25)
Paulo inicia um capítulo, todo ele marcado pelas considerações de Abraão. Sua identidade é homem de fé, independente da Lei, marcado pela atenção à vontade e à palavra de Deus que lhe era dirigida. Abraão esperou, teve confiança na manifestação de Deus mesmo não tendo os elementos necessários para ter essa segurança. Por isso, ele é o modelo do homem que crê. Não foi o cumprimento da Lei que lhe deu a paternidade espiritual de todos, mas, sim, a esperança, a fé, a justiça que recebeu de Deus e à qual correspondeu.
A salvação (5,1—11,36)
O Apóstolo inicia o argumento da justificação indicando que ela é a salvação e que essa salvação opera em Jesus Cristo. Ele determina como ocorre essa justificação em Jesus Cristo e, depois, apresenta o argumento do velho e do novo Adão. As ideias podem ser divididas da maneira que segue.
A justificação é penhor da salvação (5,1–11):
não é cabível o medo, pois a salvação veio a todo homem. Todos podem receber o dom do Espírito Santo (5,5), pois todos são resgatados por Jesus Cristo, mesmo sem o saber, ainda mortos pelo pecado. Agora, porém, marcados pela graça, muito mais podemos viver a reconciliação (5,10).
Cristo obtém a justiça (5,12–21):
Adão perdeu a justiça, a comunhão com Deus, pelo pecado. Jesus Cristo restabelece a justiça pela sua obediência. Ele está em sintonia com Deus. Se, em Adão, todos pecaram, em Cristo, todos podem ser justificados. Ele traz a graça, que rompe o pecado. Contrário ao pecado é a graça (5,20).
A morte de Cristo conquistou, para todos, a vida (5,21).
A justiça livra do pecado (6,1–23): o batismo é a assimilação em Cristo. Quem está em Cristo vive com ele e por ele (6,11). Se, antes de conhecer a Cristo, o homem serve a iniquidade, então, conhecendo a Cristo, deve servi-lo e encontrar nele a santidade (6,15ss).
A justiça livra da escravidão (7,1–25):
a Lei limita o homem, pois evidencia o pecado. Então, o homem deve estar ligado a Cristo, pois, aí sim, ele terá a liberdade e a justiça.
Contudo, a Lei não é um mal (7,7)!
Essa pode ser a ideia de quem não está atento a todo o argumento. A Lei é boa (7,2) e espiritual (7,14), mas o que ela propõe facilmente leva ao conhecimento do pecado (7,8). A razão reta, tocada pela Lei, que deve conduzir para o bom caminho, está em luta contra o pecado (7,14–25). É Jesus Cristo quem realiza a justificação e transforma tudo, livrando o homem do drama (7,25).
Justiça e Espírito (8,1–39):
a redenção operada em Jesus Cristo liberta do pecado e da Lei. A comunhão com Jesus Cristo faz o homem estar na presença do Espírito Santo (8,9.11). É necessário viver no Espírito para que isso seja real, vencendo-se os desejos da carne (8,12s). Assim, o Espírito poderá dar testemunho (8,15–18). Note-se que o texto sobre a justiça se encerra com um maravilhoso hino (8,31–39):
Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Realmente, está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro. Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Israel e a incredulidade (9,1–5)
Israel, povo da Aliança, não acreditou no Senhor Jesus Cristo. Isso não seria uma negação de tudo o que foi anunciado e esperado? Paulo sente o drama intenso, inclusive porque também ele é de Israel. Pensa que isso terá solução.
Deus e a liberdade (9,6–33)
Deus não elegeu toda a descendência de Abraão para fazer povo de Deus. Ele é livre para escolher e para decidir. É o mistério de amor de Deus (9,14–24). Israel foi rejeitado pela incredulidade (10,1–21) O motivo da distância de Israel em relação a Jesus Cristo é a incredulidade. Havia tanta dificuldade em compreender o plano da salvação que a mesma salvação não foi vivida. Israel, cheio de chances de conhecer o Messias, não lhe deu atenção e, por isso, pela incredulidade, perdeu a salvação. Israel não pode dizer que não a conhecia, pois ela foi pregada intensamente (10,14–21).
Reprovação definitiva? (11, 1–33)
Mas Deus não abandona seu povo! Ao contrário, pretende, também, salvar esse povo e dar-lhe um lugar de destaque, pois nunca deixou de ser seu povo. Os gentios, por sua vez, não se devem julgar em paz e segurança total. Devem temer o erro e o pecado para não perder o próprio lugar na salvação e na história.
Hino à sabedoria de Deus (11,34–36)
O hino à sabedoria de Deus é formidável em sua expressão lírica. Fazendo uma pergunta, o poeta declara sua admiração e maravilha. Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos! Quem pode compreender o pensamento do Senhor? Quem jamais foi o seu conselheiro? Quem lhe deu primeiro, para que lhe seja retribuído? Dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele a glória por toda a eternidade! Amém (11,34–36).
Segunda parte: moral (12,1—15,13)
A segunda parte da Carta aos Romanos é moral, de aplicação prática da justiça que Deus realiza em Jesus Cristo. Apresenta muitos elementos concretos para serem observados como conduta de um fiel em Jesus Cristo.
Prática das virtudes (12,1s)
A vida cristã implica uma renovação interior, especialmente, a mortificação do egoísmo. É esse o culto espiritual que Deus exige dos homens. Aqui, nasce a religião sublime (12,1s).
Humildade e fidelidade nos carismas (12,3–8)
Os carismas são para a Igreja, e não para o bem-estar pessoal. Cada um deve, então, viver com simplicidade o que lhe foi dado.
Caridade até para com os inimigos (12,9–21)
Até os inimigos merecem a caridade em virtude de Cristo Jesus. O cristão deve estar sempre empenhado em viver a caridade, a generosidade, deixando de lado a inimizade, o orgulho pessoal e a vingança.
As autoridades (13,1–7)
O cristão tem deveres para com as autoridades. Isso é interessante de ler, pois é u
ma consideração feita em função da realidade de todos em relação ao Império. O cristão não está isento de estar em sintonia com as autoridades.
A caridade é o resumo da Lei (13,8–11)
A caridade é o resumo da Lei, e sua plenitude é o amor.
As armas da luz (13,11–14)
As armas da luz são as boas obras. O fiel deve negar-se às orgias, às bebedeiras, à devassidão etc. Essas são as obras das trevas.
Normas particulares (14,1—15,13)
Aqui, entra um caso concreto: a questão da comida. Ela está muito ligada a práticas religiosas e cultuais. Sabemos já disso pelo próprio Judaísmo. Paulo não aborda essa questão de modo muito claro, mas o que ele sugere é, sim, objetivo. Pela liberdade de Cristo, pode ser feito sem medo, contanto que esteja dentro dos planos de Deus e confirme a justiça que habita em todo batizado. Contudo, se uma ação alimentar pode escandalizar os fracos, então, não deve ser feita pelos supostamente fortes.
Cristãos de origem gentílica e de origem judaica podem viver muito bem unidos em Cristo Jesus, louvando a uma só voz ao Senhor. Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como Cristo nos acolheu para a glória de Deus. Pois asseguro que Cristo exerceu seu ministério entre os incircuncisos para manifestar a veracidade de Deus pela realização das promessas feitas aos patriarcas. Quanto aos pagãos, eles só glorificam a Deus em razão de sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu vos louvarei entre as nações e cantarei louvores ao vosso nome. Noutro lugar diz: Alegrai-vos, nações, com o seu povo. E ainda diz: Louvai ao Senhor, nações todas, e glorificai-o, todos os povos! Isaías também diz: Da raiz de Jessé surgirá um rebento que governará as nações; nele esperarão as nações. O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e de toda a paz na vossa fé, para que pela virtude do Espírito Santo transbordeis de esperança! (15,7–13).
Conclusão, saudações (15,14—16,24)
A ousadia de Paulo (15,14–21):
Paulo "ousou" escrever aos romanos, pois eles também estão sob o amor de Deus e seu olhar. Merecem a graça de Cristo como todo homem e são justificados por ele. O Apóstolo deseja pregar naquela Igreja em breve.
Planos de viagem (15,22–33)
Paulo apresenta seus planos de viagens. Depois de levar até Jerusalém a coleta feita na Macedônia e na Acaia, declara que deseja ir até Roma e, dali, seguir até a Espanha. Recomenda-se, então, à comunidade de Roma nessas longas viagens. A Carta parece encerrar-se no versículo 20: "A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco!". Imediatamente, porém, inicia-se uma série de recomendações e saudações.
Últimas recomendações e saudações (16,1–24)
Enviam-se saudações a muitas pessoas, praticamente um terço com nome judeu; o restante é de origem gentílica. Isso evidencia a identidade da Igreja de Roma em época apostólica.
Doxologia final (16,25ss)
O final da carta é um louvor, uma doxologia. Àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu Evangelho, na pregação de Jesus Cristo — conforme a revelação do mistério, guardado em segredo durante séculos, mas agora manifestado por ordem do eterno Deus e, por meio das Escrituras proféticas, dado a conhecer a todas as nações, a fim de levá-las à obediência da fé —, a Deus, único, sábio, por Jesus Cristo, glória por toda a eternidade! Amém! (16,25–26).
4. Atividade
Em Abundantes divitiae gratiae suae, o bem-aventurado Alberione afirma:
"São Paulo: o santo da universalidade. A admiração e a devoção começaram especialmente com o estudo e a meditação da Carta aos Romanos. Desde então, a personalidade, a santidade, o coração, a intimidade com Jesus, a sua obra na dogmática e na moral, a marca deixada na organização da Igreja, seu zelo por todos os povos, foram argumentos de meditação. Pareceu´-lhe verdadeiramente o Apóstolo: por conseguinte todo apóstolo e todo apostolado poderiam haurir dele.
A São Paulo foi consagrada a Família Paulina.
A São Paulo deve também ser atribuída a cura do Primeiro Mestre" (AD 64).
A partir deste texto de Alberione e, lendo o capítulo 8 da carta aos Romanos, comentar com o grupo, porque o Fundador consagrou a São Paulo a Família Paulina.
5. Oração (Leitura orante) Rm 8
Parabéns pelo conteúdo. Gostaria de poder conversar mais a respeito. Me chame no meu whats (49)9 9122-5521
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